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romance “viagens de walter”

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“Viagens de Walter”: onde baixar e como ler

capa

Tentava argumentar com os pais. Pedia respostas. Mudanças. Relatórios. Explicações. Davam-lhe calmantes.

“Escute, Doutor Devagares: vá mesmo com calma que o mundo é vasto. Respeite seus limites, busque outros horizontes”, aconselhava a irmã.

Doutor Devagares, este era o apelido dele.

Veja a sinopse 

“Viagens de Walter” é o primeiro romance de Katherine Funke, também autora de “notas mínimas” (2010) e “Sem pressa” (Bolsa Funarte de Criação Literária, 2010).

Foi lançado em formato e-book (EPUB/livro digital) para download gratuito, disponível

no site da Solisluna Editora
e na iBooks Store.

Escrito por Katherine Funke, o livro é o produto final do projeto Viagens na Barca, realizado em 2013 na Biblioteca Barca dos Livros, em Florianópolis (SC), pela Bolsa Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Funarte.

  • Para ler no Android: faça o upload do arquivo EPUB para sua biblioteca do Google Play para abrir no Play Livros do seu dispositivo.
  • Para ler em sistemas da Apple: a partir da iBooks Store ou do site da Solisluna, abra o arquivo EPUB no iBooks ou no e-reader de sua preferência.
  • Para outros sistemas: baixe o arquivo EPUB e abra em qualquer sofware e-reader instalado.
  • Para ler no Kindle, envie o arquivo .mobi para sua nuvem de livros a partir de seu e-mail cadastrado no sistema da Amazon.

Nossos sinceros agradecimentos à Solisluna Editora, à NJobs Comunicação, à Biblioteca Barca dos Livros e à Funarte.

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Fragmento de “Viagens de Walter”: mais um

foto de katherine_funke, na estrada para florianópolis

A noite passada me fez tornar a ser um bebê encolhido na cama. Choveu como nunca, com raios, trovões e falta de energia elétrica. Em Salvador não estamos acostumados com tempestades assim.

Anteontem, antes do meio-dia, ainda não estava tão ruim. Ventava muito, mas não o suficiente para me impedir de ir até o mercado. Chegando lá, nem me deixaram descer da bicicleta. Os funcionários avisaram que iríamos passar por uma grave lestada. Por isso, fechariam o mercado por algumas horas. Recomendavam aos clientes voltarem para casa o mais rápido possível.

Há toda uma vulnerabilidade inerente a morar em Floripa: nos tornamos reféns dos humores repentinos do clima. Uma lestada vem sem grandes avisos e pode afetar nossa vida por dias. Não sabia do que se tratava, mas aprendi.

Na volta pra casa uma placa de metal voou bem diante do meu nariz. Objetos e sacos plásticos revoltavam-se por toda parte, soltos no vento forte que parecia vir de todas as direções, trazendo consigo grande quantidade de areia.

Entrei em casa e imediatamente cortaram o fornecimento de energia elétrica.

Esta noite foi pior. Ficamos sem luz e choveu muito. Tive falta de ar de madrugada. Sinto-me fraco. O nordestino é sobretudo um fraco para vento frio e úmido à beira-mar.

Descobri hoje de manhã que esta casa tem oitocentas e setenta e uma goteiras – e apenas dois baldes. Se fosse mesmo um submarino, já teria naufragado.

capa— trecho de Viagens de Walter, romance de Katherine Funke, primeiro e-book da Solisluna Editora , produto final do projeto Viagens na Barca, atividade da Bolsa Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Funarte, realizada na Biblioteca Barca dos Livros).

Baixe o livro grátis em formato EPUB ou Kindle no site da editora

Leia matéria  no jornal Notícias do Dia, de Florianópolis (SC)

Leia matéria no jornal A Tarde, de Salvador (BA)

 

 

 

 

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Mais “Viagens de Walter”: trecho do primeiro capítulo

convite/foto do cartaz

Um psiquiatra diagnosticou-o com transtorno de ansiedade. Outro disse-lhe ser esquizofrênico. Sua mãe, que não era psiquiatra, mas cirurgiã plástica, decidiu que o que ele tinha era ansiedade e dava-lhe doses diárias de calmantes e antidepressivos. Marta adotava a máxima “tem remédio pra tudo, inclusive dor na alma”. Gostava de repetir essa frase três vezes antes de entregar a ele o comprimido mágico. Depois de algum tempo, Walter percebeu que se tratava de uma mentira e prometeu a si mesmo que jamais usaria qualquer remédio para preencher buraco no peito.

O rombo estava cada vez maior e mais difícil de esconder. Mas, se não fosse ele, seria apenas mais um ser superficial por onde a vida passava sem penetrar nas ranhuras. Se não fosse aquele buraco, jamais teria pensado em realmente agir.

O calmante o estimulava. Recusa-o com grande classe: fingindo aceitar. Tapeava bem também – e tão bem quanto papai e mamãe.

Naquela manhã mesmo, horas antes de começar a fazer a mochila, mais uma vez lá estava a determinada Senhora Sua Mãe.

Em alguns dias, você vai estar melhor.”

Walter engole e sorri, mostrando os dentes.

Muito bem, filho. Você sabe, seu pai vai sair candidato na próxima eleição. Ele precisa de você para dirigir a maternidade da clínica.”

Assim que a mãe sai, Walter levanta e cospe o calmante pela janela. Nunca esqueceria que sua mãe havia contratado e corrompido um psicólogo para fingir amizade. Durante meses, acreditou no sincero desinteresse do amigo em estar perto dele, embarcando nas mesmas viagens.

Marta pediu desculpas.

Marta era assim, deixava marcas profundas e depois pedia desculpas.

Na janela do quarto, a visão de um navio singrando a Baía de Todos-os-Santos traz a mente de Walter de volta para seu plano de fuga. Confere a hora de relógio. Quase nove. Isso sim acalma: saber que tem muito tempo para executar o planejado.

Vai ao banheiro, lava o rosto. Ouve música em fones de ouvido. One more cup of coffee, pede Bob Dylan, e Walter quase canta junto. Mas se contém. Deita quieto na sua gigantesca cama. Por dentro, arde como a chama da vela, os neurônios ferventes. Externamente, age como se tivesse mesmo sido dopado, silencioso e dormente no quarto até os pais saírem.

Das nove ao meio-dia, arruma a mochila. Levaria pouquíssimo. A maior parte de seus pertences ficaria em Salvador. Precisa de leveza nas costas; carregava uma cabeça muito pesada. Dá a última olhada no armário. Falta algo, ele sabe. Mas não são as roupas brancas, e sim a conversa que ele não teve com os pais.

É porque tenho ética”, diz, fechando as portas com um gesto abrupto.

Deixa o segredo escondido, bem guardado ao lado dos uniformes, para, quem sabe, revelá-lo na volta. Não havia mais muito a fazer. Já tinha vendido o carro, depositado o dinheiro em uma nova conta, em outro banco. Fechou a conta em que recebia sua bolsa e a mesada dos pais. Cancelou o velho celular, comprou um novo chip, instalou.

Quando estivesse em outro lugar, poderia criar novas carteiras de motorista e de identidade, com novos números, caso decidisse nunca mais voltar. Mas faltava algo, e era isso: a coragem de ir embora para não voltar. 

capa– trecho do primeiro capítulo de Viagens de Walter, de Katherine Funke (Solisluna Editora). O livro será lançado em formato digital (EPUB) na Barca dos Livros, em Florianópolis (SC), no dia 21 de setembro de 2013. Conheça o projeto Viagens na Barca – aqui e em nossa página no Facebook

Leia trecho de “Viagens de Walter” – segundo capítulo

ilustração de pierre themotheo para Viagens de Walter

ilustração de Pierre Themotheo para Viagens de Walter

Passaram-se duas semanas daquele dia com Sueli. Ela foi internada ontem, me disse o Senhor Cachimbo há pouco. Ele me fez uma longa visita. Tem ventado muito forte durante o dia e lá fora está tão gelado que dói dentro do ouvido. O fato de ele estar na rua me aturdiu e de imediato gritei da janela, abrindo o portão eletrônico:

Entre, Senhor Cachimbo!”

Nunca o havia visto gargalhar: ria e lacrimejava. Gostou mesmo do apelido. Foi tão bonito que, assim que subimos, ofereci um café e conectei o MP3 à caixa de som. Ouvimos um dos discos de Daniela. (Confesso que venho escutando as músicas dela desde que me instalei aqui. Cantoras, cantoras, cantoras. Que cantoras! Mulheres e tanto.)

Sentamos na sala, ele na poltrona virada para o mar e eu em uma grande almofada sobre o piso de tacos de madeira. As notas melancólicas e rurais de um disco chamado Time (The Revelator), de Gillian Welch, logo ganharam elogios por parte do meu vizinho. Prestamos atenção na letra. Ele fala inglês melhor do que eu e corrigiu-me em uma interpretação errada de um verso.

Não tem problema. Isto ou aquilo, toda tristeza tende a ser bonita, no final. Mas estás com a lareira apagada neste frio. Por quê?”

Confessei inexperiência completa no tema, tanta quanto no setor dos cachimbos.

Se quiser, te ensino as duas coisas.”

Aceitei. Este homem tem uma postura sincera comigo, o que me alegra. 

Falou-me das marcas de tabaco. Mostrou-me duas latinhas que levava no bolso. Uma era turca e a outra, brasileira.

Encheu o cachimbo cuidadosamente com o tabaco turco, acendeu-o com um isqueiro simples e manteve-se sugando o ar de tempos em tempos, tarefa que fazia com a testa franzida. Entendia do controle da brasa, da quantidade exata de ar que se deveria usar, do ritmo da inspiração e do quanto aquilo podia ser benéfico para a mente. 

Fumar faz mal de todo jeito, mas esta brasa de cachimbo aquece a alma sem afetar tanto o corpo.”

Estava preocupado com a sobrinha, via-se. Mas parecia feliz em ter alguém para ensinar o ritual do cachimbo. Disse que era neto de indígenas e que desde sempre conhece do assunto, mas que só depois de ter comprado um cachimbo suíço começou a apreciar tabacos importados, de aromas mais trabalhados, como se uma coisa levasse a outra.

Perguntei se deveria comprar álcool para acender a lareira. Recomendou nunca usar álcool. Disse para fazer um feixe com os gravetos e por dentro dele acomodar folhas de jornal enroladas e amassadas. Acenderia o jornal, que queimaria gravetos, e em seguida deveria ir alimentando o fogo com pedaços de madeira pequenos, depois maiores, galhos na vertical formando um tripé, até poder colocar por sobre a chama firme um pedaço de tronco mais robusto. Deveria mexer na brasa às vezes para reavivar o fogo e alimentá-lo com achas novas à medida que as velhas fossem se extinguindo.

Logo depois de beber seu café, ele disse que precisava ir embora. O filho estava sozinho em casa. Fui com ele até o portão. Na volta, vim sentindo o aroma turco retido no vão da escada. Muito bom: um dia talvez eu tente gostar disso, pensei, e continuei a ouvir música. Florianópolis e aquele disco combinam bem, um lance bucólico, cavalos e pastagens, montanhas e mar, casais e pessoas solitárias andando a pé na beira do asfalto…

Então eu, que me achava um homem de cidade grande, decidi acender a lareira. Desci de novo para procurar um jornal. Achei na garagem uma publicação cara de pau com mais propaganda do que notícia. Queima bem.

capa do livro "viagens de walter", de katherine funke– trecho do segundo capítulo Viagens de Walter, de Katherine Funke (Solisluna Editora). O livro será lançado em formato digital (EPUB) na Barca dos Livros, em Florianópolis (SC), no dia 21 de setembro de 2013. 

Entrevista da autora para o jornalista Rubens Herbst – “As âncoras de Katherine Funke”
Conheça o projeto Viagens na Barca – aqui e em nossa página no Facebook

Nosso convite: 

convite

Sábado, 21/9: lançamento de “Viagens de Walter”

convite

Conheça nosso barco, por dentro e por fora

dentro do barco Dom Manoel: o chapéu ali é de Sig Schaitel | foto: Marina Moros

dentro do barco Dom Manoel: o chapéu ali é de Sig Schaitel | foto: Marina Moros

Os saraus do projeto Viagens na Barca acontecem dentro deste barco: o belo e forte Dom Manoel. A saída é sempre às 17h, no trapiche do centrinho da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O local de saída é indicado por um quiosque com a marca da biblioteca Barca dos Livros.

Singrando as águas da Lagoa da Conceição | foto: Marina Moros

Singrando as águas da Lagoa da Conceição | foto: Marina Moros

O próximo sarau é no segundo domingo de maio. E o tema não podia ser outro: as águas na literatura – mar, lagoa, rio, como aparecem e o que representam. Até lá!

“Olhava para o mar, não para Daniela, à procura da melhor definição. Walter tinha isso com o mar: ele ajudava a pensar, a escolher palavras e, no final, a não dizer nenhuma. Eram todas inúteis, às vezes inocentes, às vezes maliciosas, mas sempre inúteis: uma onda conseguia quebrar na areia e voltar a ser onda minutos depois, mas uma palavra dita nunca podia ser desdita, e mesmo assim isso não tinha a menor importância, porque haviam muitas outras a serem ditas depois.”
(trecho do romance Viagens de Walter, de Katherine Funke – o livro está sendo escrito durante o projeto Viagens na Barca e será lançado em setembro/2013.)

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Barca dos Livros recebe projeto de residência artística da Funarte

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Enquanto escreve um romance, a escritora Katherine Funke vai interagir com a comunidade do Ponto de Cultura Biblioteca Barca dos Livros – Porto Virtual de Leituras, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC).

Entre março e setembro, a escritora promove o projeto “Viagens na Barca”, atividade integrante da Bolsa Interações Estéticas – Residências Artísticas em Ponto de Cultura, da Funarte. 

Serão ao todo dez encontros: sete na “sede-porto”, localizada dentro do LIC-Lagoa da Conceição, e três na “sede-barco”, a embarcação que mensalmente leva o público da Barca dos Livros para navegar pela Lagoa.

As saídas na sede-barco estão marcadas para os segundos sábados dos meses de abril, maio e junho e duram aproximadamente uma hora. Os encontros na “sede-porto” são gratuitos, e os da sede-barco custam R$ 5 (cinco reais).

PROCESSO CRIATIVO
Katherine conta que os eventos fazem parte do processo criativo do romance Viagens de Walter.

“Por um lado, para escrever, é preciso se fechar. Por outro, trata-se também de um momento de remexer memórias e conceitos, definir e redefinir, ouvir, escutar a palavra em ação na boca de diferentes autores, leitores e na sua própria voz”, explica.

Ela vai divulgar um calendário temático com sugestões bibliográficas a cada semana no blog do projeto (viagensnabarca.wordpress.com/), mas adianta que englobam uma gama de autores clássicos e contemporâneos, com algum destaque a mais para os seus colegas de língua portuguesa atuais.

“Gosto muito dos trabalhos de Ondjaki, de Daniel Galera, de Carol Bensimon, de Gonçalo M. Tavares, entre outros autores de língua portuguesa”, afirma. “Trarei também outras influências e preferências pessoais, em especial alguns grandes nomes da literatura norte-americana do século XX, como F. Scott Fitzgerald e Raymond Carver, e autores de outras épocas, como Gregório de Mattos, poeta baiano do século XVII”.

Entre questões como colonização brasileira, influências externas e convivência com contrastes culturais, destaca-se em especial o tema da migração, já que o protagonista de Viagens de Walter é um médico baiano à procura de um novo lar.

Iniciado em 2007, o romance será finalizado durante a estadia em Florianópolis e lançado em setembro, em formato digital.

SOBRE A AUTORA
Nascida em Joinville (SC), Katherine mora na região metropolitana de Salvador desde fevereiro de 2003. Na Bahia, trabalha como jornalista e escreve. Tem um livro publicado, Notas mínimas (Solisluna, 2010) e outros em processo de edição, como Sem pressa, escrito com apoio de outra bolsa Funarte, a de criação literária, durante o ano de 2011.

“Não tenho pressa de publicar. Ao mesmo tempo, um conto do livro Sem pressa parece estar ganhando vida própria. Ainda este ano, o texto vai sair na Alemanha, traduzido, em antologia da editora Klaus Wagenbach, de Berlim, e também no Brasil, na revista da editora Arte & Letra, de Curitiba. Estou muito, muito feliz com tudo isso”, conta Katherine.

SOBRE O PONTO DE CULTURA
Localizada em Florianópolis (SC), a Barca dos Livros é referência nacional na área do livro e da leitura. Tem uma comunidade de mais de três mil e quinhentos leitores cadastrados e um acervo de onze mil livros. Realiza eventos como as Quartas de Babel e as Quintas Literárias. Já recebeu vários prêmios por suas ações de fomento à leitura, como a Medalha Cultural Cruz e Souza (2009).

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